A web deve dar origem já nas próximas décadas a um novo
sistema econômico com base em trocas e colaboração.
PERDEU TIO SAM: PARA O BIÓFILO RIFKIN, CHINA E ALEMANHA
SERÃO AS GRANDES POTÊNCIAS DA NOVA ECONOMIA
FOTO: ULF ANDERSEN/GETTY
IMAGES
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Nos últimos 300 anos, o mundo passou por duas revoluções
industriais: a primeira liderada pela Inglaterra no fim do século XVIII, e a
segunda, pelos Estados Unidos, algumas décadas depois. O pioneirismo transformou
esses países em potências mundiais.
De acordo com o pensamento do economista norte-americano
Jeremy Rifkin, foi dada a largada para uma nova corrida industrial entre as
nações, e desta vez a Alemanha saiu na frente. Guru de executivos e chefes de
estado, como a alemã Angela Merkel, Rifkin explica em seu último livro, The
Zero Marginal Cost Society: The Internet of Things, the Collaborative Commons,
and the Eclipse of Capitalism (A sociedade do custo marginal zero: a internet
das coisas, os bens comuns colaborativos e o eclipse do capitalismo), como a
internet das coisas está dando origem à economia do compartilhamento, que
deverá superar o capitalismo até a metade do século.
P: O senhor diz que o capitalismo vai ser colocado em
segundo plano pela economia colaborativa (ECONOMIA SOLIDÁRIA). Muita gente se
assusta com a ideia de um mundo onde o capitalismo não é o único caminho?
Sim, mas talvez o mesmo tanto de pessoas ache essa
possibilidade intrigante e mesmo esperançosa. A sociedade do custo marginal
zero: a internet das coisas, os bens comuns colaborativos e o eclipse do
capitalismo. Ela é o primeiro sistema econômico a emergir do capitalismo desde
o socialismo no século XX. Nós viveremos em um sistema econômico híbrido,
composto pela economia de troca no mercado capitalista, e pela economia do
compartilhamento.
P: O senhor considera o capitalismo obsoleto para as
necessidades atuais?
De tempos em tempos, novas revoluções tecnológicas emergem
para gerenciar mais eficientemente a atividade econômica. Creio que agora
estejamos em um longo e perigoso “fim de jogo”, um pôr do sol da segunda
revolução industrial. Em 1905, 3% da energia era utilizada na cadeia de
produção e 97% era perdida. Em 1980 tivemos um pico de 18% de eficiência, e
parou nisso. Estamos empacados. O que está acontecendo agora é que estamos no
curso de uma terceira revolução industrial. A internet das coisas vai conectar
campos de agricultura, linhas de produção de fábricas, lojas de varejo e
armazéns, veículos autônomos e casas inteligentes. É uma transição épica, que
pode conectar a raça humana inteira em tempo real e nos mover para uma
produtividade extrema, com custo marginal baixo ou mesmo zero em todos os
setores da economia.
P: O senhor acha que os Estados Unidos continuarão sendo a
maior potência nesse novo sistema?
Os líderes agora são a Alemanha e a China. Os chineses
entenderam que os britânicos lideraram a primeira revolução, e os
norte-americanos, a segunda, e que essa era a chance deles.
P: O senhor sugere que essa transição de paradigma do
capitalismo para os bens comuns colaborativos (solidários) vai ocorrer de
maneira suave, e não como as grandes revoluções políticas que já acompanhamos.
Não existem pessoas e instituições interessadas em estancar esse processo de
mudança?
Há interesses poderosos, governos e indústrias querem ter
voz, mas o que realmente me preocupa são as companhias de internet. Eu adoro o
Google, uso todos os dias, mas ele já assume a forma de um monopólio global. O
mesmo acontece com o Facebook. A pergunta é: o que fazer? No século XX,
mantivemos no mercado privado companhias de eletricidade, telefônicas,
gasodutos, coisas de que todos precisavam – mas regulamos suas atividades por
meio do governo. Seria ingênuo acreditar que essas empresas privadas tão
grandes e importantes, que estabeleceram bens de que gostamos e que queremos,
não serão reguladas por alguma forma de autoridade global.
P: No livro, o senhor concebe essa nova sociedade como uma
“civilização empática global”. Por quê?
O que está acontecendo é uma mudança fundamental na forma
como as gerações mais novas pensam. Não se trata apenas de os jovens estarem
produzindo e compartilhando seu próprio entretenimento, notícias e informações,
eles também estão começando a compartilhar todo o resto – carros, roupas,
apartamentos. A internet permite que eles eliminem os agentes intermediários
(atravessadores) e criem uma cultura do compartilhamento. As gerações mais
novas não querem ter um carro, isso é coisa do vovô. Os millenials das gerações
mais novas querem acesso, e não posse. Eles estão realmente começando a ver a
si próprios como parte de uma grande família humana, e as outras criaturas em
certa medida também como parte dessa mesma família.
DICIONÁRIO RIFKIN
Entenda alguns dos conceitos
mais usados pelo economista
TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL:
processo desencadeado pela internet das coisas, liderado pela Alemanha e pela
China. Deve promover níveis de produtividade e eficiência energética sem precedentes,
reduzindo os custos de bens e serviços e consolidando a economia do
compartilhamento e dos bens comuns colaborativos (solidários).
CUSTO MARGINAL: conceito
econômico que se refere à variação no custo total de produção quando se aumenta
a quantidade produzida de bens. O custo marginal zero representa uma situação
ideal de produtividade, na qual se pode fabricar mais objetos sem pagar mais
por isso, reduzindo drasticamente o valor final do produto, que pode até ser
compartilhado gratuitamente.
CIVILIZAÇÃO EMPÁTICA: termo
criado para se referir à nova civilização que Rifkin acredita que deverá surgir
a partir do processo de transição pelo qual estamos passando. Trata-se de uma
mentalidade não mais adaptada ao capitalismo, mas à economia do compartilhamento
(economia de solidariedade ou fraternal). É uma visão que concebe a humanidade
como uma única família e o planeta ou a biosfera como a comunidade que se
compartilha.
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