Ubirajara Rodrigues da Silva
A palavra trabalho é originária do latim tripalium; “castigo”. Etimologicamente
esta palavra bem representa o quão torturante ela o é para muitas pessoas nos
tempos atuais, não diferenciando do pelourinho, que no Brasil escravocrata, se
mantinha em lugares centrais e públicos, estacas fincadas no chão, tais quais troncos
para castigar escravos, ao contrário da Idade Média na Europa aonde esse
artificio servia para castigar criminosos.
Infelizmente o trabalho no Brasil tem sido
motivo de insatisfação e desilusão, principalmente para os estratos sociais
situados na base da pirâmide social. Pouquíssimas são as pessoas recompensadas
e realmente satisfeitas com os resultados do seu trabalho para as suas vidas. Assim
não há como interpretar o trabalho como algo simplesmente engrandecedor ou
mesmo dignificante no seu estágio atual brasileiro. Entretanto se sabe é que o
trabalho enquanto promotor de condição para sustentação material do individuo
humano na sociedade dita civilizada, no decorrer dos séculos sempre manteve
tensa relação entre dominadores e dominados. O modu operandi do trabalho mudou,
mas essa força de trabalho continua servindo às classes sociais hegemônicas. E,
mesmo com todas as profundas transformações inseridas no seu contexto, o
trabalho no Brasil não deixa de seguir padrões politicamente desfavoráveis para
as classes trabalhadoras que não são treinadas e também qualificadas nos
padrões tecnológicos dos países dominantes. Nisso a importância da escola torna-se
fundamental enquanto espaço de implementação de dispositivos pedagógicos
capazes de atuar para o empoderamento do educando. Empoderamento esse, acompanhando
as transformações cabíveis nos setores da produção tecnológica, que, propõe e
direciona para a construção de procedimentos didáticos compatíveis com as
realidades em curso. É nessa movimentação onde há o choque de preceitos
doutrinários sociais, político, econômicos, artístico, etc. em debates, que se injeta
não somente a necessidade, mas o direito das classes desfavorecidas também
tomarem parte, para com legitimidade influenciarem nos processos decisórios.
Desde Sócrates, Platão e Aristóteles achavam
que é preciso encontrar explicações para a realidade do mundo nele mesmo e não
na religião ou na mitologia.
Seguir uma linha de raciocínio em que
personagens como Sócrates, Antonio Gramsci (educação/cultura), Marx (economia),
Paulo Freire (educação), Pablo Picasso (pintura), Candido Portinari (pintura), Tarsila
do Amaral (pintura), Piaget (educação), Villas-Lobo (música), dentre outras personalidades
evidentemente mais representativas das tendências e influências europeias na cultura
brasileira, de um lado, do outro, as influências africanas e indígenas naturalmente
popularizadas.
Ao contrário
do comentário acirrado da cultura
do caos , na prática ,
dentro da região
para onde
jorram os efeitos dos defeitos da convivência social , no pensamento
dos filhos de gerações anteriores ainda cabe um alerta de que a
sua realidade
pode ser alimento de redenção capaz
de conduzir a um
sentimento de autocrítica ,
superando o simples traço
em preto
e branco sobre
a superfície vazia
do papel , produzindo o que
é vantajoso para
manter o senso
de proporção e equilíbrio .
Isso acontece se lhe
é passado capacitação
para admirar a arte ou a técnica , a iluminação
ou as sombras ;
quando lhe
é passado noções
de que tudo
pode ser criado
com maestria
e segurança , sabendo que
a verdadeira noção de beleza
pode resultar da capacidade
de exprimir desenvolvida
pela pessoa , por mais rudimentar ou simples que
sejam os instrumentos usados, mesmo construídos de artefatos
encontrados no lixo .
Essa prática segue
na trilha da inclusão
de atitudes qualitativas, dando maior consistência à ideia
da “arte de viver ”
acrescentado da “arte de ver ”
por intermédio
do exercício do olhar
mais aguçado para
a realidade circundante. Assim
trabalhada a sensibilidade artística , os exageros
do cotidiano – que
podem ser sutis e muitas vezes
tapados pelo hábito
da pessoa de não
ser educada para perceber as sutilezas
– deixam de retardar a possibilidade de se firmar na coletividade
a existência de um
imaginário útil
para o desenvolvimento
local .
Exemplo
visual desse exercício :
CAVALOS
COMENDO LIXO (visão
real ) –
uma aberração cotidiana nas favelas e nos bairros populares .
Imagem real
(tão comum )
despercebida e perversa
(o hábito é uma cortina
espessa condutora dos olhares à inacessibilidade
do entendimento da realidade
refletora da doença social ,
política, cultural, econômica , filosófica).
CAVALOS
EM HABITAT AMENO
(concepção Arte de Ver) Irrealidade não
idealizada no cotidiano das favelas ,
bairros populares .
Aqui os olhares
são levados
a perceber e a interagir numa realidade de entendimento saudável ,
política , cultural, econômica ,
filosófica.
Visão
real: Rio Faria Timbó poluído, completamente inerte, que além de estagnadas as
suas águas outrora límpidas, contribui para a enfermidade do local que perde o
impulso de se desenvolver.
Rio
despoluído e economicamente viável, possibilitando que a comunidade o use de
vários modos positivos para o desenvolvimento local, preservando a saúde do
meio ambiente.
Os painéis acima expostos são oriundos do
exercício da Arte de Ver com alunos da Oficina Portinari Manguinhos/Casa Viva Redeccap.
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