domingo, 2 de outubro de 2016

O TRABALHO E A ARTE DE VER

Ubirajara Rodrigues da Silva

A palavra trabalho é originária do latim tripalium; “castigo”. Etimologicamente esta palavra bem representa o quão torturante ela o é para muitas pessoas nos tempos atuais, não diferenciando do pelourinho, que no Brasil escravocrata, se mantinha em lugares centrais e públicos, estacas fincadas no chão, tais quais troncos para castigar escravos, ao contrário da Idade Média na Europa aonde esse artificio servia para castigar criminosos.
Infelizmente o trabalho no Brasil tem sido motivo de insatisfação e desilusão, principalmente para os estratos sociais situados na base da pirâmide social. Pouquíssimas são as pessoas recompensadas e realmente satisfeitas com os resultados do seu trabalho para as suas vidas. Assim não há como interpretar o trabalho como algo simplesmente engrandecedor ou mesmo dignificante no seu estágio atual brasileiro. Entretanto se sabe é que o trabalho enquanto promotor de condição para sustentação material do individuo humano na sociedade dita civilizada, no decorrer dos séculos sempre manteve tensa relação entre dominadores e dominados. O modu operandi do trabalho mudou, mas essa força de trabalho continua servindo às classes sociais hegemônicas. E, mesmo com todas as profundas transformações inseridas no seu contexto, o trabalho no Brasil não deixa de seguir padrões politicamente desfavoráveis para as classes trabalhadoras que não são treinadas e também qualificadas nos padrões tecnológicos dos países dominantes.  Nisso a importância da escola torna-se fundamental enquanto espaço de implementação de dispositivos pedagógicos capazes de atuar para o empoderamento do educando. Empoderamento esse, acompanhando as transformações cabíveis nos setores da produção tecnológica, que, propõe e direciona para a construção de procedimentos didáticos compatíveis com as realidades em curso. É nessa movimentação onde há o choque de preceitos doutrinários sociais, político, econômicos, artístico, etc. em debates, que se injeta não somente a necessidade, mas o direito das classes desfavorecidas também tomarem parte, para com legitimidade influenciarem nos processos decisórios.
Desde Sócrates, Platão e Aristóteles achavam que é preciso encontrar explicações para a realidade do mundo nele mesmo e não na religião ou na mitologia.
Seguir uma linha de raciocínio em que personagens como Sócrates, Antonio Gramsci (educação/cultura), Marx (economia), Paulo Freire (educação), Pablo Picasso (pintura), Candido Portinari (pintura), Tarsila do Amaral (pintura), Piaget (educação), Villas-Lobo (música), dentre outras personalidades evidentemente mais representativas das tendências e influências europeias na cultura brasileira, de um lado, do outro, as influências africanas e indígenas naturalmente popularizadas.
Ao contrário do comentário acirrado da cultura do caos, na prática, dentro da região para onde jorram os efeitos dos defeitos da convivência social, no pensamento dos filhos de gerações anteriores ainda cabe um alerta de que a sua realidade pode ser alimento de redenção capaz de conduzir a um sentimento de autocrítica, superando o simples traço em preto e branco sobre a superfície vazia do papel, produzindo o que é vantajoso para manter o senso de proporção e equilíbrio. Isso acontece se lhe é passado capacitação para admirar a arte ou a técnica, a iluminação ou as sombras; quando lhe é passado noções de que tudo pode ser criado com maestria e segurança, sabendo que a verdadeira noção de beleza pode resultar da capacidade de exprimir desenvolvida pela pessoa, por mais rudimentar ou simples que sejam os instrumentos usados, mesmo construídos de artefatos encontrados no lixo.   
Essa prática segue na trilha da inclusão de atitudes qualitativas, dando maior consistência à ideia da “arte de viver” acrescentado da “arte de verpor intermédio do exercício do olhar mais aguçado para a realidade circundante. Assim trabalhada a sensibilidade artística, os exageros do cotidianoque podem ser sutis e muitas vezes tapados pelo hábito da pessoa de não ser educada para perceber as sutilezas – deixam de retardar a possibilidade de se firmar na coletividade a existência de um imaginário útil para o desenvolvimento local.      
Exemplo visual desse exercício:
CAVALOS COMENDO LIXO (visão real) – uma aberração cotidiana nas favelas e nos bairros populares. Imagem real (tão comum) despercebida e perversa (o hábito é uma cortina espessa condutora dos olhares à inacessibilidade do entendimento da realidade refletora da doença social, política, cultural, econômica, filosófica).





CAVALOS EM HABITAT AMENO (concepção Arte de Ver) Irrealidade não idealizada no cotidiano das favelas, bairros populares. Aqui os olhares são levados a perceber e a interagir  numa realidade de entendimento saudável, política, cultural, econômica, filosófica.






Visão real: Rio Faria Timbó poluído, completamente inerte, que além de estagnadas as suas águas outrora límpidas, contribui para a enfermidade do local que perde o impulso de se desenvolver.








Concepção Arte de Ver:
Rio despoluído e economicamente viável, possibilitando que a comunidade o use de vários modos positivos para o desenvolvimento local, preservando a saúde do meio ambiente.




Os painéis acima expostos são oriundos do exercício da Arte de Ver com alunos da Oficina Portinari Manguinhos/Casa Viva Redeccap.





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