Massacre de São Bartolomeu, de François Dubois |
Na
década de setenta, eu bem jovenzinho, cheguei a imaginar imagens de tanques apontando para as
favelas de modo ficcional, no sentido político de tentar abafar uma ação
revolucionária dos pobres favelados contra os ricos donos do poder financeiro, econômico
e político deste ainda obscuro país. Mas o que se vê é a soldadeira nada
solidária composta na sua maioria por filhos do povo pilhado, filhos que sabem perfeitamente
que estão traindo suas próprias raízes em nome de uma ética militarista
desumana que colabora para preservar a arrogância das classes dominantes. Muitos desses
soldados são negros sabedores do erro que estão cometendo em nome de uma pátria desamada, desarmada, explorada pelos desalmados. Quando esses jovens tomarem consciência de
preservação do que é justo, deixarão suas vagas de soldados para a filharada dos
ricos opressores. O que acontece na Rocinha, no Alemão, no Jacarezinho, em
Manguinhos, no Rio de Janeiro, no Maranhão, em Recife, São Paulo, Amazonas,
enfim, no Brasil inteiro, reflete toda uma realidade de desgovernos que demanda
mais de cinco séculos. Digo mais de cinco séculos devido a herança de um estado
português falido, deixado aqui gerando todo um processo antidesenvolvimentista
que acaba proporcionando tudo de mal, dando desrespeitosos pontapés nas nossas portas
em nome de uma lei pífia feita apenas para o deleite dos brancos ricos donos
deste gigante adormecido Brasil. Mas acredito que uma verdadeira Revolução
Popular está mais próximo do que nunca, pois insatisfações, indignações, abusos
em nome de leis de exceções, tudo isso um dia transborda em revolta, numa
espécie de Noite de São Bartolomeu, como se sucedeu na França do final do
século XVI, evidentemente guardando as proporções históricas, no nosso caso
seria tipo "Noite de São Sebastião".
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