Crônicas de Xaolin da Rocinha.
Ele se chamava Marechal. Era idoso, trabalhava nas margens
de um valão negro e mal cheirosa favela da Rocinha. Sua oficina era a rua.
Consertava eletrodomésticos para obter uma pequena renda para seu sustento.
Na infância não teve oportunidade para estudar por que a
escola era longe. Cresceu sem conhecer a sala de aula.
Na juventude não conseguiu emprego, por que ninguém dá
emprego a quem não sabe ler e escrever. Trabalhava consertando ilusões, quem
conserta equipamento usado, ilumina o rosto do dono, como se fosse novo.
Trabalhou até a morte, vitima de balas cruzadas.
Nenhuma proteção de Estado brasileiro, nenhuma esperança de
sobrevivência digna. Ali na rua, sem proteção do sol, sem proteção do vendo,
sem proteção do Estado, ganhava seu sustento.
Marechal, símbolo do descaso brasileiro, sem escola, sem
trabalho, sem esperança.
Nestes tempos de Intervenção Militar, Marechal que sempre
vivia com o olhar no vazio, aguardava alguma esperança chegar e ela chegou em
forma de bala que lhe tirou aquilo que ele tinha de melhor; a vida.
Marechal não receberá nenhuma salvas de tiros, já recebeu o
tiro fatal. Não receberá continência de nenhum soldado, graduado ou oficial.
Marechal será enterrado como viveu; invisível!
Marechal sobrevivente da brutalidade e da selvageria insana
ao desprezo à vida.
Chove chuva na natureza, chove no meu coração!
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