sexta-feira, 24 de agosto de 2018

MEIO MILHÃO DE PESSOAS, NOVAMENTE RECEBENDO COMO POLÍTICA PÚBLICA, O MEDO, A DOR, O DESESPERO E A COVARDIA

Por Raull Santiago

Vocês que não são de dentro do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha, ou de favela/periferia,  não fazem ideia do terror que está aqui hoje. 
MAS VOCÊS PODEM AJUDAR A FREAR ISSO! POR FAVOR!
Há casas sendo invadidas e destruídas. Crianças sendo revistadas. Celulares tomados e conversas/privacidade sendo desrespeitadas. E pior, pessoas agredidas e muitos assassinatos, inclusive a facadas.
Não acredito que a humanidade tenha chegado a esse ponto de desumanização, ou seja tola o suficiente para acreditar que violência, algum dia, poderá construir qualquer perspectiva de paz;
Essas ações violentas chamadas de busca por "Segurança Pública" só alimentarão mais e mais o caos que temos vivido neste sociedade, enquanto cariocas, enquanto brasileiros, enquanto seres humanos.
Estou reparando que estamos gritando alto, mas quem pode intervir, se mantém em silêncio. Eu não sei o que está acontecendo com essa sociedade, ainda mais com as pessoas próximas a mim, a essas duas favelas que são o Complexo do Alemão e o Complexo da Penha. 
É triste sangrarmos nessa justificativa bizarra de "guerra às drogas", quanto todos e todas sabemos que não é atacando as favelas que se construirá solução sobre essa questão. 
Não é na favela que essas drogas nascem. E não é aqui que estão as poderosas fábricas de armas. Duas frases que já são até clichê, mas que precisam ser ditas, pois são tão óbvias, porém parece que as pessoas escolheram fingir que não entenderam... Isso é preconceito conosco. É ser menos humano, humana, com você mesmo/a.
E agora? Há corpos no chão, de todos os lados de uma batalha que já se inicia perdida. E nós, Complexo do Alemão e da Penha, mais de MEIO MILHÃO DE PESSOAS, novamente recebendo como política pública, o medo, a dor, o desespero e a covardia. 
É isso que vocês querem para essa cidade?
É isso que vocês querem para esse estado?
Jamais vou aceitar violência como solução para violência. Muito menos o sangue pelo sangue. Essa sociedade já insisti nisso fazem anos, mas as coisas só ficam piores. 
Não esqueçam:
> Gastaram milhões com a UPP. 
> Gastão bilhão com a intervenção.
Quantas escolas foram construídas?
Quantas moradias melhoradas?
Quantos esgotos a céu aberto tratados e fechados?
Quantas vezes o estado invadiu a favela com 4 mil professoras e professores? Ou com 4 mil treinadores e treinadoras de diferentes esportes? 
Começou às 4h da manhã...
Eu saindo de casa, vi a vizinha idosa saindo e avisei: o exército está entrando na favela. 
Ela já quase chorando diz: "ai meu Deus, de novo não. Você vai descer agora? Posso ir com você? Eu preciso chegar no trabalho, tomara que esteja passando ônibus, pois eu tenho que estar as 5h25 no Centro".
Ela só queria não se atrasar, para não perder o lugar onde ela tira o pouco que vira o todo do lar. Tem noção disso?
É óbvio que a pessoa tem medo. Ela poderia dizer que não ia descer, até porque lá na pista, quando saímos do beco haviam uns 20 fuzis apontados para nós. 
Mas descemos, eu e ela tremendo. Cada um tendo que fazer escolhas menos piores, ou que interfiram menos em sua vida já difícil. Ou seja, precisar chegar ao trabalho como escolha dela, mesmo que tenha que passar pelo risco iminente de tiroteio. 
Sabe porque? É que aqueles e aquelas que não vivem na favela, não sabe os significados e escolhas diversas que precisamos fazer o tempo inteiro, no cenário da sobrevivência. Ou seja, patrão não quer saber, manda embora mesmo, a tia, ou o tio que chegou atrasado ou faltou, porque a bala voou antes mesmo do galo cantar.
Hipocrisia do caralho, sabe?
Sociedade de merda, sabe?
Aquela sensação ruim de não ter muito o que fazer e pior, sentir que a maioria só observa enquanto a gente agoniza.
Parecem esperar nosso último suspiro. 
Eu não tenho medo de polícia, exército, operações e etc.
Eu tenho medo de vocês, que ficam em silêncio, quando poderiam e deveriam gritar. Ainda mais quando tem muito mais privilégios que a nossa realidade aqui da favela.
NOSSAS VIDAS IMPORTAM. E isso ninguém vai tirar da minha cabeça. 
#NósporNós  #FavelaSempre



BELEZAS ESQUECIDAS, NÃO PERCEBIDAS E DESCONHECIDAS

Por Sandra Braconnot
Não nasci, não cresci e nem vivi em uma favela. Minhas vivências se limitam a algumas situações específicas como às coberturas que fiz nos morros do Juramento - na época do Escadinha -, do Borel, Macacos, Salgueiro e outros que nem me lembro, nos tempos de Repórter Policial da Rádio Tupi. Mas não foi só a criminalidade que me levou aos morros cariocas: as tragédias também. Lembro-me de um desmoronamento ocorrido, no final dos anos 80, no dia de Natal, no Pavão e Pavãozinho. Muitos moradores morreram e eu acompanhei in locum o trabalho dos bombeiros. A expressão facial (de um horror vivo) das vítimas resgatadas permanece até hoje muito nítida em minha memória. "Subi" outras vezes para prestar "assistência espiritual aos sofredores" e distribuir um "kit-sobrevivência". Também tive outra experiência em (já) "comunidade": ministrei palestras sobre valores familiares para pais, na Escola Municipal Chácara do Céu, no alto do Morro do Borel. Namorei um Projeto Social no Turano, mas não "casei". Com esses blocos cognitivos e outros adquiridos pela mídia e a rádio povo é que cheguei à aula de hoje do curso Jornalismo em Políticas Públicas e Sociais, da Univesidade federal do Rio de Janeiro (JPPS) cujo tema "Comunicação Popular e Anti-hegemônica e Políticas Públicas" seria abordado em uma mesa redonda-retangular reunindo alguns nomes (para mim) conhecidos e outros não.
Quantas surpresas me aguardavam!
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Sandra Braconnot é jornalista, consultora, psicodramatista, trainer em Programação Neurolinguistica. (www.sandrabraconnot.com.br e asfloresensinam.blogspot.com)